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Muito já foi escrito sobre a tecnologia digital e os seus efeitos na cultura, mas não o suficiente para quem deseja incluir os efeitos da digitalização na leitura literária atual. Muitos discursos, otimistas ou preocupados, referem-se às possibilidades que os novos meios de comunicação abrem ou às ameaças que representam.
A neurociência parece ser capaz de sustentar ambas as posições, dependendo da interpretação que faz dos seus dados; muitas vezes oferece apenas uma compreensão limitada do fenómeno dado que dificilmente integra as variações sociais dos usos e estes estão insuficientemente situados na prática e no contexto.As ciências da informação e da comunicação se concentram mais em dispositivos, usos e usuários, que a digitalização implica ou promove, do que em sua apropriação real. As estatísticas públicas medem os usos sem ser capaz de contabilizá-los. Esta edição da Symbolic Bens visa reintroduzir a leitura a partir das perspectivas oferecidas pela história do livro e pelas ciências sociais.
Para sair dos debates, em grande parte ideológicos, que opõem o antigo e o moderno, proponho unir investigações empíricas que distinguem os diferentes suportes e, ao mesmo tempo, atentam para as variações sociais entre os usos que deles se fazem. O número começa com uma entrevista com Roger Chartier, que coloca a leitura digital no longo prazoda história da palavra escrita e questiona a ruptura que a tecnologia digital tem causado no regime dos livros. Três estudos sociológicos sobre as práticas de leitura atual colocam à prova essa interrogação de obras empíricas: o que está mudando a transição da impressão para a tela para leitores, socializados no regime dos bookeptos e que se tornam, que tentam um leitor de livros empréstimos eletrônicos ou , pelo contrário, não imaginam, de forma alguma, transpor para a forma digital os benefícios que o livro de papel lhes confere? Finalmente, esta edição examina alguns dos usos específicos que a tecnologia digital permite, a partir de práticas acadêmicas não profissionais, que envolvem o uso de corpora digitalizados,às práticas de leitura / comentário de uma produção literária de quadrinhos públicos originalmente em versão digital.
Se “a metamorfose do leitor”, seguindo a expressão de Pierre Assouline, existe, onde se situa?
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