Ler na fonte | Um artigo de LAURA MIYARA
O especialista explica como a inteligência emocional nos ajuda a alcançar o que ele chama de um «estado ótimo» em que os fatores externos não podem afetar-nos de forma negativa e somos mais produtivos
Mundialmente conhecido pelo seu livro Inteligência emocional, um sucesso mundial publicado há 25 anos com mais de cinco milhões de cópias vendidas, o psicólogo e professor da Universidade de Harvard Daniel Goleman é um dos autores mais importantes nesta temática. A inteligência emocional é, para ele, uma variável muito mais determinante para a trajetória de vida de uma pessoa do que outros tipos de inteligência. “O que os dados mostram é que, embora o QI possa predizer a que profissões uma pessoa possa aceder, uma vez que lá chegue, ela será tão inteligente quanto os demais. Portanto, o que indica quem vai destacar-se ou quem pode tornar-se um líder é a inteligência emocional”, observa.
Mas o que é a inteligência emocional? De que forma, exatamente, nos ajuda a alcançar o nosso potencial máximo na vida? Estas são algumas das perguntas que Goleman explora em Óptimo (Kairós, 2024), o novo livro que ele co-escreveu ao lado do doutor em psicologia da Universidade de Yale Cary Cherniss. Nessas páginas, os especialistas explicam que existe um estado ótimo a que todos podemos chegar para fazer com que todos os nossos dias se pareçam um pouco mais com o melhor das nossas vidas, em termos de bem-estar e desempenho.
O que é a inteligência emocional
A empatia, a capacidade de escuta e o conhecimento das emoções são alguns dos aspetos que constituem este tipo de inteligência, uma ferramenta que pode ser treinada para melhorar a trajetória das nossas relações pessoais e laborais, o desempenho académico e desportivo e, em última análise, a qualidade da nossa vida.
Em poucas palavras, a inteligência emocional consiste, precisamente, em “ser inteligente sobre as nossas emoções”, descreve Goleman. Isto implica, em primeiro lugar, saber reconhecê-las em nós mesmos e nos outros. Em segundo lugar, saber geri-las de forma adequada. E por último, o terceiro componente da inteligência emocional é a empatia, a capacidade de exercer a compaixão.
Após décadas dedicadas ao estudo da inteligência emocional, o especialista desenvolveu uma nova abordagem para aplicá-la aos ambientes de trabalho. Com base em estudos de meta-análise que apontam a inteligência emocional como um “preditor significativo” do desempenho, propõe intervenções baseadas em aumentar a inteligência emocional dos trabalhadores para reforçar o seu compromisso e dedicação à equipa da qual fazem parte e à tarefa que devem realizar, seja ela qual for. Estas intervenções procuram alcançar o que Goleman e Cherniss chamaram de estado ideal.
Estado ótimo e saúde emocional
Para Goleman, o estado ideal «é aquela sensação de que estamos no nosso melhor. Gostamos do que fazemos, sentimo-nos envolvidos, estamos absortos na nossa atividade, podemos resolver problemas e enfrentar desafios criativos de forma bem-sucedida e fácil. Sentimo-nos ligados com as pessoas de que estamos rodeados. É, em suma, um bom dia”.
Isso difere do estado de fluxo, uma sensação muitas vezes experimentada por atletas de elite durante os seus treinos e competições. “O fluxo é aquela ocasião extraordinária em que nós nos superamos. Mas fingir que isso se torna quotidiano é uma expectativa pouco realista, porque é algo que simplesmente acontece, não é algo que nós decidamos fazer. O que acreditamos é que nós podemos aumentar a quantidade de dias produtivos, por outras palavras, ótimos, de forma intencional”, observa Goleman.
Por que é importante desenvolver a inteligência emocional para chegar ao estado ideal? O especialista explica isso a partir de dados coligidos em pesquisas sobre o assunto. “Descobrimos que os altos níveis de inteligência emocional em líderes, chefes ou executivos criaram circunstâncias que tornaram um dia ótimo mais provável para todos. Um bom líder tem inteligência emocional: é autoconsciente, empático, gere as suas emoções de forma saudável e gere os seus relacionamentos de forma eficaz. É inspirador e motivador”, descreve o psicólogo.
Ao mesmo tempo, a inteligência emocional ajuda-nos a melhorar a resistência à frustração e torna-nos mais fortes diante da adversidade. Neste sentido, observa Goleman, trata-se de uma ferramenta na qual podemos trabalhar internamente para que os fatores externos não nos afetem de forma negativa. “Há uma distinção importante entre as coisas que nós não podemos mudar e as que podemos mudar. A nossa realidade pode não mudar, mas os nossos sentimentos subjetivos dependem de nós. O estado ideal coloca-nos no melhor estado interno para enfrentar essa adversidade”, resume.
Passos para chegar ao estado ideal
A primeira coisa a saber é que o estado ideal é semelhante à meditação e, nesse sentido, importa menos «fazer bem» do que persistir na tentativa. Na verdade, meditar é um dos caminhos que Goleman recomenda para alcançar este estado. O psicólogo propõe começar concentrando-se na respiração.
“Na verdade, podemos concentrar-nos em qualquer constante neutra que nos acompanhe, mas a respiração é um bom lugar para começar. O primeiro passo é inspirar e expirar. O segundo é notar a pausa entre inspiração e expiração. O próximo passo é recomeçar. Isto é algo que pode ser feito de manhã, por exemplo, antes de ir trabalhar. Recomendo começar com cinco minutos e depois aumentar progressivamente”, propõe o especialista.
Esta é uma ferramenta eficaz para exercitar a autoconsciência. A partir daqui, outros aspectos podem ser trabalhados, como a concentração, que é crucial para o estado ideal. “Quanto mais nos concentramos no que estamos a fazer, mais nos envolvemos e mais nos satisfazemos. O processo cerebral que facilita a concentração acalma-nos, estamos menos desgostosos e isso fomenta a resiliência. O estado ideal não é passivo nem indiferente, é um estado em que as coisas nos importam e muito”, observa Goleman.
O grande obstáculo está no nosso bolso e acompanha-nos durante todo o dia, a todas as horas. Falamos do telemóvel. “Os telefones móveis são o nosso melhor amigo, mas também o nosso pior inimigo em termos de distração. Eles têm todas as coisas que nos seduzem e que nos distraem”, diz o psicólogo.
O smartphone influencia porque o que fazemos com ele tem uma carga emocional. É por isso que treinar a nossa inteligência emocional é a chave para evitar este problema. “Não é apenas a distração externa, mas os pensamentos emocionalmente carregados que surgem quando usamos o telemóvel. Aprender a prestar atenção, a concentrar-se apesar do que está a passar pela sua mente, é uma verdadeira forma de chegar ao estado óptimo. O que a pesquisa nos mostra é que a maior distração que enfrentamos é o nosso próprio estado emocional: estar a pensar naquela coisa que alguém lhe disse, por que eles não responderam ao e-mail, é o que isso significa. A nossa mente é a nossa maior distração”, explica.
Se esses pensamentos nos causam um fardo constante, pode ser necessário procurar ajuda profissional. “Perceber que nosso diálogo interno está a afetar-nos negativamente é muitas vezes um sinal de problemas psicológicos. Esta consciência emocional é muito importante, porque como o nosso cérebro está estruturado, cada pensamento tem uma emoção associada e há uma psicoterapia chamada cognitivo-comportamental que pode ajudar-nos a gerir as emoções perturbadoras questionando o pensamento associado”, recomenda Goleman.
Referência: Lavozdegalicia. (2024). Daniel Goleman, psic. Retrieved from https://www.lavozdegalicia.es/noticia/lavozdelasalud/salud-mental/2024/02/15/daniel-goleman-psicologo-harvard-proceso-cerebral-concentracion-calma/00031708008986814903793.htm