Ajudar os estudantes a usar a inteligência artificial de forma criativa sem a tentação de fraude

Configurar chatbots escolares pode estimular os estudantes para o uso criativo da IA. Chatbots que não fazem o trabalho por eles

Abril 2024

por Holly Clark | Ler na fonte

Traduzido do inglês com adaptações.

Quando o ChatGPT foi apresentado ao público no final de 2022, causou uma divisão significativa na comunidade educativa. Por um lado, os professores reconheceram o potencial desta ferramenta como um meio para personalizar e democratizar a aprendizagem. Por outro lado, alguns educadores expressaram preocupações de que se tornaria uma ferramenta de fraude, levando a um declínio do pensamento autêntico e criativo.

No último ano, trabalhei muito para obter uma visão menos dicotómica da inteligência artificial (IA) na sala de aula e procurei formas através das quais a IA pudesse apoiar e melhorar a aprendizagem personalizada e ajudar os educadores a reconsiderarem a IA como apenas uma “ferramenta de fraude”.

Encontrar esse equilíbrio foi facilitado quando conheci chatbots personalizados para a sala de aula, projetados especificamente para o uso dos estudantes. Não demorou muito para reconhecer que esses bots têm o potencial de introduzir uma nova dimensão de assistência para os estudantes que estão bloqueados ou que querem melhorar. Nós sabemos que os estudantes recorrem mais à fraude quando não sabem como começar ou o que fazer de seguida.

Então, como encontramos o equilíbrio? Comecemos por reconsiderar a IA—vendo-a menos como uma ameaça ao pensamento crítico e à verdade objetiva e mais pelo seu potencial como uma fonte de apoio para ajudar os estudantes a fazerem um trabalho melhor e mais significativo.

SISTEMA DE APOIO

Interagir com um chatbot personalizado parece-se muito com conversar com ChatGPT ou qualquer ferramenta de IA baseada em chat, mas com algumas diferenças importantes.

Professores que o “programam” usando ferramentas como SchoolAI e Mizou podem construir soluções blindadas para apoiar cada estudante de forma segura, mantendo-os concentrados.

Cada uma destas ferramentas oferece aos estudantes acesso a assistentes de IA personalizados sem ameaçar os seus dados.

O que os diferencia ainda mais de outros chatbots é a capacidade do professor ver, detalhadamente, as interações com os estudantes.

Os professores podem controlar exatamente o que o estudante pode ou não fazer ao usá-los, tornando mais fácil manter os estudantes concentrados numa tarefa específica.

É importante ressaltar que os bots não substituem professores, antes oferecem assistência adicional aos estudantes num dado momento, ajudando-os a começar ou a avançar, efetivamente, sozinhos.

A qualquer momento, durante o processo de brainstorming e de escrita, alguns estudantes podem estar a usar a AI enquanto outros trabalham sozinhos.

ADEUS, PÁGINA EM BRANCO

Para ver como isto funciona, entrámos numa sala de aula de língua inglesa de um colégio público onde um grupo diversificado de alunos foi encarregado de escrever um ensaio. O professor quer deixar que os estudantes tenham “voz e autonomia” na escolha do assunto, mas, como sabemos, cada estudante precisa de um apoio diferente para começar.

Antes da aula de hoje, o professor e eu configurámos um chatbot, como assistente do aluno, para ajudar a personalizar a experiência de aprendizagem de cada um. Quando nos sentámos para criar esse chatbot, o professor explicou que uma das suas principais frustrações era não poder dedicar o tempo necessário para ajudar cada estudante como gostaria.

Invariavelmente, durante o tempo de escrita individual, parte da classe ficava a olhar para uma página em branco, avançando pouco, enquanto esperavam que o professor os ajudasse diretamente. Para ajudar a resolver este velho problema, criámos um bot personalizado usando a SchoolAI para ajudar os estudantes a iniciar o processo de escrita sozinhos.

Abrimos o assistente de IA, chamado Sidekick, e digitámos as nossas instruções (configurações), solicitando-lhe que ajudasse os estudantes a escolher um assunto, começar com a pesquisa e descobrir algumas das perspectivas possíveis para o seu ensaio.

Depois disso, informei a professora de que podia usar a informação fornecida no painel do professor para perceber onde cada estudante estava no processo, até mesmo para ver as suas conversas (interações) com o chatbot.

Desta forma, o assistente promove uma experiência mais personalizada, como um tutor de escrita, para cada estudante conforme, se mostre, necessário.

Os estudantes começaram a interagir rapidamente com o chatbot, e o envolvimento foi assinalável. Ouvimos comentários como “Ei, isto é tão fixe” e “Onde estava isto escondido?” e “Isto está-me a ajudar tanto!”. Outro aluno abordou-me para dizer “Obrigado por isto. Eu precisava muitas vezes de ajuda, mas não queria perguntar”.

A professora, que era um pouco descrente inicialmente, corre agora pela sala da turma, de estudante para estudante, e posso ver nos seus olhos que ela se converteu ao uso da IA na sala de aula. Os estudantes estão a trabalhar diligentemente com a ajuda do chatbot, e cada um está a passar pelo processo de escolher uma ideia que o deixa apaixonado, mergulhando mais nas possíveis nuances do tema, enquanto outros estão a receber conselhos de pesquisa, e ainda outros estão a mergulhar em possíveis argumentos opostos.

No painel do professor, começamos a obter um resumo do que está a acontecer com as interações dos estudantes e o seu progresso individual.

Em nenhum momento durante este processo, o chatbot escreverá o ensaio por eles, pois foi criado inicialmente com instruções específicas para garantir que isso não aconteça.

Esta experiência foi criada para fornecer apenas o suficiente apoio personalizado, para que os estudantes se foquem na atividade e não fiquem sem apoio. O chatbot está lá para ajudar o estudante a avançar.

E embora tenha sido útil para todos os estudantes, provou-se especialmente valioso para aqueles com dislexia e para os aprendizes de língua inglesa.

Noutra sala de aula, alunos do jardim de infância estão a usar um chatbot personalizado para criar frases para palavras visuais e, após ouvir muitos exemplos diferentes, eles escolhem a sua favorita para partilhar com o seu colega. Neste cenário, o estudante, eventualmente, escreve essa frase favorita, cheia de novas e interessantes palavras, no seu caderno.

Ambas as salas de estudantes crescerão sabendo que chatbots podem ajudá-los na sua escrita sem que lhe escrevam o texto, combatendo assim a fraude. Eles aprendem essencialmente a compreender como se comunica com a IA para obter informações, procurar ajuda adicional e ultrapassar a incerteza de não saber o que fazer a seguir.

Estes estudantes não são deixados na “imensidão” da IA, em casa, com pouca orientação. Isto é uma vitória enorme para a educação.

UM FUTURO MAIS PRODUTIVO

Sabemos que os estudantes precisam de apoio, não apenas para desenvolver a sua autonomia e proficiência na aprendizagem, mas também para alcançar objetivos de aprendizagem específicos.

Tragicamente, os estudantes que têm dificuldade em compreender conceitos à medida que são apresentados na sala de aula ou não conseguem começar a tempo, frequentemente, desistem, o que os deixa frustrados e com lacunas de aprendizagem enquanto a turma avança sem eles.

Quando isto acontece, as lacunas de aprendizagem começam a acumular-se ao longo do tempo e podem levar a dificuldades de aprendizagem que não deveriam existir.

Isto poderia ser fortemente contornado com apenas um pouco de assistência alinhada e a tempo.

Ainda nos estágios iniciais, estas ferramentas oferecem uma visão do futuro onde professores e a IA colaboram para desbloquear o potencial completo de cada aluno. Quanto mais trabalharmos com estas ferramentas, mais poderosas elas se tornam, mais úteis serão para os estudantes.

Referência: Clark, H. (2024). Helping Students Use AI Creatively Without the Temptation of Cheating. Retrieved from https://www.edutopia.org/article/guiding-students-creative-ai-use

Conteúdo relacionado:

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.